Hoje começa uma semana importante aqui para o Vales Independentes. Quarta-feira é o dia que o blog comemora um ano de existência. Temos várias ideias e projetos para colocar em prática, mas nos falta tempo entre trabalho e faculdade. Mesmo assim, damos um jeito e de imediato temos uma nova contratação para anunciar. Mais um integrante vindo diretamente da terra do chimarrão, onde os festivais estão a toda e dando um laço de público nas festas que temos aqui por Santa Cruz. Nada mais justo que Venâncio Aires ter dois representantes. Portanto, sem mais enrolações, segue aí o review de Geferson Kern -guitarrista da Vade Retro - para o Venus Rock Festival. Mais tarde eu volto pra falar mais sobre nosso um ano de existência!
Get up! On Venus Rock City
Este é um daqueles textos que poderia ser aberto por algum
clichê de constar num dicionário de obviedades rockeiras. Coisas como “It’s
only rock’n'roll, but I like it”, “you can’t kill rock’n'roll”, “aumento que
isso aí é rock’n'roll” ou outros recursos similares. Uma falta de criatividade
absurda, mas não inadequada por completo. Porque, mesmo estas sendo mais
batidas que detonar o Restart, ainda servem para dar uma noção do que foi o 10º
Vênus Rock Festival, ou só VRF. A função rolou no último sábado (13), na
Sociedade de Leituras, em Venâncio Aires. E depois de dois anos de inércia, o
festival mostrou que ainda tem cacife para ser um evento no nível da massa
rocker local.
Cheguei na
festa por volta de meia-noite, quando os shows já estavam rolando. Mas, de
cara, duas boas impressões: o visual (bem com a eficiência) causado pelos dois
palcos, montados lado a lado em uma das laterais do salão principal; e o
público. Que ficou na casa das 400 pessoas, um dos maiores que já pintaram no
Vênus. Tínhamos jovens, nem tão jovens, venâncio-airenses, forasteiros, fãs de
pop, headbangers e mais um monte de tipos. Até o prefeito Airton Artus, recém
reeleito, deu as caras. Este, aliás, foi um dos maiores ganhos desta edição: o
apoio do poder público e a divulgação em mídia que o festival recebeu, com
amplo espaço em rádio e jornal para remobilizar os camisas pretas da cidade.
Dentre os
shows, perdi a sempre eficiente apresentação da Maquinados. E, claro, dos tais
Vade Retro, quando uma certa guitarra me deixou muito ocupado para fazer
avaliações razoáveis. Mas acompanhei ao menos trechos dos outros seis grupos.
Sobre estes, não vou fazer uma análise individual ou cheia de pormenores. O que
não me impede de registrar que a Dozeduro se consolidou de vez, com seu estilo
teatral, na pilha do que faz o Velhas Virgens. Também que a Silverstone teve
uma estreia ousada, tocando um monte de números de classic rock e se saindo
bem, num subgênero em que os fãs estão entre os mais cri-cris do rock e que
sempre exige de quem toca pela dificuldade técnica e pelo altíssimo nível
mítico das músicas em questão. Ou ainda que a Subto Hellemento mostrou evolução
e fez um show consistente, sem tirar o pé mesmo tendo tocado às 4h para um
salão já não muito cheio.
Como
esperado, os dois palcos funcionaram muito bem. Deram agilidade para a
programação, trouxeram um impacto visual legal, ajudaram a concentrar o público
na pista e apresentaram qualidade sonora equivalente – embora, por vezes, voz e
bateria tornassem os demais instrumentos quase inaudíveis. A exigência da
apresentação de músicas próprias também confirmou-se como um acerto. Sobretudo
numa terra em que as gerações recentes estavam mais do que habituadas a montar
bandas apenas para tocar covers dos ídolos. Ponto para a organização e ótimo
item a ser tomado como base para as festas vindouras.
Este,
aliás, vai ser o grande desafio do povo rock de Venâncio: fazer com que este
VRF não tenha sido apenas um reencontro de músicos, batedores de cabeça,
bebedores de cerveja e etc., mas um ponto de partida para que as festas de
rock’n'roll voltem a ter espaço e expressividade por aqui. Os grupos que
fizeram esta edição tem muito mérito, sobretudo pelas músicas próprias
apresentadas. Mas foi notório que, na média geral, o nível de qualidade das
bandas ficou abaixo dos tempos em que o palco tinha gente como Carbura, Tom
Turbina, Muralha, Lei Seca, Nebulozza e Nexus – pra ficar em alguns exemplos. O
festival ainda terá como missão se reinventar a cada vez em que for realizado.
Lembremos que o Vênus deixou de ser interessante e entrou em hiato justamente
porque seu tradicional formato saturou. É preciso pensar em novidades. Quais?
Há muita coisa para estudar. Programar a ordem das bandas, trazer grupos de
fora, trocar o local da festa, fazer um circuito de rock ao longo do ano, criar
uma marca própria de cerveja, sortear viagens para a China ou sei lá o quê.
Vale tudo. Menos cair no marasmo.
As
ponderações, porém, não são exatamente motivo de preocupação. Elas sempre vão
existir e, neste caso, não apagam o registro mais importante: o rock’n'roll
ainda tem força nestas bandas e há bastante espaço para trabalhar e fazer a
máquina render. Ainda temos guitarristas afiados, garotos com camisetas do Iron
Maiden, garotas que gostam de ouvir Oasis e bebedores de cerveja das mais
diversas natureza. Muitos. Que fazem este pedaço de terra cheio de fumo e erva
continuar a ter esta faceta de ser Vênus. A cidade do rock.
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