quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Memórias Latentes I

     As vezes me pego perguntando a mim mesmo: como seria, hoje, a música, se não tivessem partido meus ídolos? Algumas vezes eu me deparo com respostas quando browseio minha internet. Na semana passada foi-me sugerido observar o último álbum do Hellyeah e, sinceramente, não tem nada a ver com os ultimos álbuns da banda - parece um apelo comercial brutal, nada a ver com aquele southern metal tri da massa que andávamos escutando. É uma resposta um tanto negativa para a pergunta anterior, quando pensamos no Dimebag. Claro que, como falei, os dois primeiros álbuns são maneiros e espero que fiquem back on track no próximo.



     Agora, em contrapartida, o Alice in Chains lança um álbum genial que entra pro mundo dos recordes como o álbum mais alto(não necessariamente barulhento) do mundo, tendo que reduzir o volume quando se toca as faixas, cada qual mais emocionante.

Esse é dá pesada!

      Mas afinal, qual o propósito dessa coluna? Eu gostaria de falar um pouco sobre a história latente nessas obras e, hoje, em descomemoração aos 10 anos de sua morte, decidi falar sobre o fim de carreira e legados de Layne Staley. Tá, reconheço que estou um tanto atrasado para isso, pois faz vários meses que se passaram os 10 anos sem Layne, mas nunca é demais lembrar.

Jesus Christ!

     O pequeno Layne tinha 7 anos quando os pais se divorciaram e, desde então, como contou em entrevista, perseguia uma carreira de sucesso, acreditando que se ele virasse celebridade, seu pai ia se lembrar dele e voltar à sua casa. Também, na mesma entrevista, em 2002, pouco antes da sua morte, diz que o próprio pai teve problemas sérios com drogas e culpa-o pelo menos parcialmente dos seus.



     Seattle é a capital mundial da depressão(mas não do suicídio, esta seria Venâncio Aires) como diria o guitarrista e irmão de alma de Layne, Jerry Cantrell. Jerry se mudou recentemente para Los Angeles por não conseguir mais conviver com as memórias que Seattle lhe traz e fala disso na música 'Check my Brain', grande single do novo álbum. Junto com sua mudança, diz ele, à exemplo de Staley, cortou as drogas pesadas e disse que não era essa vida que desejava. Sendo assim, o novo álbum, Black Gives Way to Blue(mais uma alusão às mudanças, o preto, o triste, dá lugar ao azul, à calmaria e serenidade) é um enorme breakthrough nessa história toda de perdas e problemas. Por 5 anos a banda não tocou mais desde a morte de Layne em 2002 e em 2009 resolveram que não produzir novo material não ajudaria em nada e, realmente, de nada ajuda.

   








  

      O corpo de Layne Staley foi encontrado em seu apartamento, completamente pálido e magro, perto de pilhas de drogas, seringas e bongs(narguilés, até onde sei) e, segundo perícia presente online no site da polícia de Seattle, fora uma morte por overdose causada por uma injeção de Speedball - o famoso speed do Lemmy.

     Layne quase não saia do seu apartamento, após entrar em hiato com o Alice in Chains e fazer uns projetos com seus amigos como Class of '99 e Mad Season. Os seus conhecidos dizem que o viam no mesmo bar perto do apartamento algumas vezes por semana enchendo a cara, completamente pálido e parecia que tinha perdido uns 20kg, sentado sozinho numa mesa e não proferindo uma sequer palavra. Todos que tentavam estabelecer contatos nesse período de 99 a 2002 recebiam a mesma mensagem: "não tente contatar meus colegas do Alice in Chains, eles não são meus amigos". 

     Durante esse período de decadência, também, o baterista Sean Kinney diz que ele 'batia ponto' toda semana. Ligava na mesma hora uns 3 dias por semana, passava na frente do apartamento gritando pelo vocalista e nada. Após inúmeras tentativas de ajudar o amigo, diz que se as pessoas não querem se ajudar, não há o que os outros podem fazer. Layne era uma pessoa difícil de se lidar, e seus problemas com Heroína e Crack acabaram por determinar seu destino. Staley diz, em entrevista, que ele não utiliza substâncias por vício e sim porque para um organismo viciado, a abstinência causa uma dor tão imensa(o tal do dope sick que vemos muitas vezes em músicas) que ele as utilizava apenas para não ter que arcar com as dores e sua cabeça cada vez mais confusa. O vocalista portador de uma das vozes mais belas dos ultimos tempos e criador de verdadeiras poesias como Down in a hole e No Excuses não passava de um ser humano como nós, com medo, com receios, com dores.

Acústico sempre é bem-vindo.

      Notícias veicularam perguntando à empresária do grupo em hiato(o AIC) perguntando "quem irá limpar a bundinha do Alice in Chains agora?"[numa livre tradução minha] e Layne respondeu enviando à sede do proferidor de tal nonsense uma sacola marrom com um jarro de urina e fezes suas, com uma nota escrito "limpem isso, filhos da p****"[novamente, uma traduçao livre minha]. Não foi um período fácil.

     E agora, mais de 10 anos depois de tudo isso, bate um pensamento: como seria o mundo se isso não tivesse acontecido? A carreira do AIC com Layne fora genial, digna de muitos discos de ouro, com álbuns geniais que expressam todos esses sentimentos obscuros da vida de um ser humano. O último álbum do AIC responde que continua complicado, mas está cicatrizando e, nosso rock continuará vivo e fiel. Porém, as memórias continuarão, em textos tão singelos quanto estes, em músicas tão significativas quanto Check my brain e Last of my kind.

A hell of a place to end the run, oh yeah!

     O final dessa história não é tão triste mas dá o que pensar. Será que o mundo não seria um lugar melhor se nossos ídolos não tivessem se afogado em drogas? Tanto menininho de apartamento se considerando um rockstar porque foge do colégio pra fumar marlboro vermelho e tanta bandinha se achando os rockstar sem ao menos ter saído da garagem. Tanta banda que recém saiu da garagem e já quer cobrar cachê milionário e tanto músico que não é de coração; tanto pôser. Eu acredito que quem lê uma coisa dessas há de se emocionar e repensar todas suas atitudes. Pensem, todos, o mundo pode ser melhor se a gente raciocinar um pouco. Abraços e lágrimas.

Rest in Peace, Layne.

2 comentários:

  1. Porra! Vcs chamaram Raul cover aí, e nem um review até agora??

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    Respostas
    1. Desculpa, mas acredito que infelizmente nenhum dos integrantes do blog pode estar presente nesta grande festa que a Sunset trouxe. Se alguém teve e quiser contar como foi, sinta-se livre. Só entre em contato conosco.

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