A Stupid Little Dreamer VIII - Thule

      Hoje começo minha coluna aqui no blog de luto. Infelizmente, neste fim de semana meu tio, Xandi Lucchese, deixou este mundo. É triste, sim... Mas, vocês devem estar se perguntando – “O que isso tem a ver com um blog sobre música da região?”. Explico – primeiramente, que se não fosse por ele eu provavelmente não seria músico e talvez nem seguisse no caminho do rock and roll. Foi um grande rockeiro, que sempre fez o máximo para que seus filhos e sobrinhos fossem para o caminho certo. Mas, vai muito além disso! Xandi tinha uma banda. Uma grande banda! E é dela que vou falar aqui hoje.

      Como já comentei algumas vezes, sou grande fã de rock progressivo. Yes, Rush, ELP, Genesis e muito mais, coisas que muitos de vocês nunca ouviram falar. Mas, uma época foi popular tudo isso. E, lá pelos anos 70/80, o Brasil contava com algumas bandas que seguiram por esse caminho. Mutantes (e depois a carreira solo do Arnaldo Baptista, com a Patrulha do Espaço), Casa das Maquinas, o Terço e algumas outras – não muitas. Aqui, no Rio Grande do Sul, o prog nunca fez grande sucesso. O pessoal seguiu mais caminhos diferentes, como pode ser visto nos discos dos anos 80 lançados por aqui. TNT, Cascavelletes, Engenheiros, Nenhum de Nós, Bandalheira e várias outras, quase tudo igual. Não ruim, mas parecido.

      Lá em São Leopoldo, um grupo de jovens tentava algo diferente. Fazer um som mais progressivo misturado com hard rock em plena cena onde tudo era mais rock and roll clássico. Em 1982 foi formada a Thule. Foram várias formações ao longo dos tempos, mas sempre contando com Xandi Lucchese nos vocais (também guitarra, teclado, harmonica e composições) e Deco Moeller no baixo e backs. Ao longo dos anos 80, esse grupo fez shows por todo o sul do Brasil, e participou de dois LPs conjuntos – negócio tradicional da época – chamados Som do Sul e Diga-Diga de Artes. Neste foi lançado seu maior hit, Anabiosis. Canção que tocou bastante nas rádios.

Clipe de Anabiosis nos anos 80. Ah... os anos 80...

      Mas, o rock progressivo é cruel, e nunca os levou muito longe. A banda acabou e ficou parada por quase 15 anos. Durante este tempo, seus integrantes tiveram outros projetos. Xandi, por exemplo, tocou em uma banda cover de Rush e uma cover de Led Zeppelin (que contava com ex integrantes de TNT e Cascavelletes), alem da banda Lady Blue, que fez certo sucesso no final dos anos 90 pela região metropolitana.

      Thule voltou em 2002, com Xandi e Deco, acompanhados do baterista Rodrigo. Agora era um Power trio, como o Rush. Nos anos 2000, gravaram uma demo relembrando o que foi feito nos anos 80. Foi chamada de Metatron, e contou com clássicas como Anabiosis, Os Deuses e As Feras, Quando Abandonei as Estradas, Nova Morada, a que da nome ao disco e outras 10 músicas, que iam do progressivo ao blues, hard e clássico. Voltaram também aos palcos, fazendo shows pela cidade e região, relembrando os velhos tempos (tanto pra eles quanto para o público).

Música "Os Deuses e As Feras" em 2009 com a participação de integrantes dos anos 80

     Porém, Xandi não quis só relembrar, mas sim trabalhar em algo novo. Ai veio a ideia do Sistema Solar. Um disco conceitual, bem mais voltado ao progressivo sinfônico, relembrando o que foi feito por bandas inglesas nos anos 70. Após muitos anos de trabalho, em 2007, a Thule lançou a demo. Com uma música para cada planeta, o disco foi gravado de forma simples, mas que mostra toda a qualidade musical que eles possuem e também uma linda composição conceitual, comparada a grandes trabalhos de bandas dos anos bons do rock.

      Nos shows dessa nova fase, o trio precisou se tornar um quarteto, portanto o filho do Deco assumiu a guitarra base. As apresentações eram incríveis, se via no palco o resultado de anos de muito trabalho por uma causa tão desacreditada. O rock progressivo estava ali mais vivo do que nunca, representado por esses mestres de São Leopoldo. A Thule é um marco histórico na música gaúcha, sendo uma das principais representantes do progressivo. Infelizmente, esse estilo sempre foi muito subestimado e não teve – e continua não tendo – a divulgação merecida.

Sol, começo do Sistema Solar, no São Leopoldo Fest em 2008

      Agora, pelo menos por um tempo, a Thule acabou. Mas, é algo tão forte que pode sim um dia voltar em outra formação, quem sabe? Enquanto isso, pelo menos temos os registros das duas demos que foram gravadas na década passada, vídeos de vários shows, um clipe e, pelo menos pra mim, muitas lembranças.

      Segue aí para quem quiser (eu recomendo muito) o dowload do Metatron e do Sistema Solar. Este segundo está faltando duas músicas, Júpiter – que era a maior delas, com mais de 20 minutos – e Urano. Estou tentando recuperar elas. E, alguns outros vídeos deles...