segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cold, Jack and Blues


    A rotina foi quebrada no sábado passado (12 de maio) de outono, com cara de inverno, porém com um toque de qualidade (um toque não, uma tijolada), já que a Legend Music Bar, em uma iniciativa louvável, e incrível, trouxe a Santa Cruz do Sul uma etapa do Encontro Internacional de Harmônicas Bluesum turnê conjunto de 4 feras do instrumento, e que passou por Porto Alegre e Caxias do Sul, além do nosso buraco no Vale do Rio Pardo. Mais uma vez, a casa se mostra audaz e disposta à investir em atrações de peso, e dessa vez, ainda por cima, voltada para um público um tanto restrito. O Blues é parecido mais ou menos o que o Botafogo é no RJ, o segundo preferido de todo mundo (se é ou não, não sei, só ouvi isso certa feita), só que gostar de blues é uma coisa, ir à um evento é outra, e ainda mais um evento em que a atração principal é a gaita harmônica, amada e idolatrada por muitos, odiada por alguns. A minha presença, junto do meu grande amigo Igo, era garantida, pois ambos somos fãs do instrumento, fãs do blues, e ainda por cima, metidos a gaitistas.

    Os temores em relação ao público foram logo afastados. Chegamos cedo, almejando tirar proveito da promoção de dose dupla de Jack Daniels, e logo de cara já nos deparamos com um público razoável, e após tomar algumas doses na área externa, verificamos que seria uma noite de casa cheia.



    Falando do que se viu no palco, foi indescritível. Os quatro artistas se apresentaram em revezamento, em dois blocos. No primeiro, cada um tocou duas músicas de sua autoria, e no bloco posterior, fez-se uma "suruba gaitística", como foi definido pelo baixistas da ótima banda de apoio.


    Primeiramente se apresentou Ale Ravanello, um bluesman clássico, que canta muito bem, intercalando seu vocal com linhas na harmônica. Mostrou um senso melódico incrível, e já de início, reafirmou o fato de que Igo e eu, como gaitistas, somos ótimos blogueiros. Fez uma ótima apresentação, ainda passando a idéia de uma banda com foco na gaita.

    O caxiense Toyo Bagoso, aí sim, nos convenceu a largar qualquer pretensão mais séria com a harmônica. Ele fez o primeiro show de harmônica totalmente solo da noite, apenas sendo acompanhado pela banda de apoio. Destaque total para a harmônica, e um feeling enorme, estava maravilhado, e mal podia prever o que estava por vir.

    Flávio Guimarães, pude vê-lo em minha frente, e por insistência do Igo, após o show também conversar com ele, e conhecer um dos nomes que consolidaram o blues no Brasil, através do seu trabalho solo, e principalmente, com a Blues Etílicos, umas das únicas bandas de blues que chegaram a figurar no "mainstream" no Brasil. Flávio deu uma aula, fez um show perfeito, e mostou coisas que nem sabia que podiam ser feitas em uma harmônica.




    Finalmente, fomos apresentados ao integrante que confere o adjetivo "internacional" à trupe, e Gonzalo Araya não é um nome fácil de esquecer. Não pelo nome em si, mas pelo que vimos no palco. O que ele faz, eu ainda duvido que seja fisiológicamente possível. As notas na harmônica são emitidas por sopro ou sucção nos orifícios da gaita, que se confundem à respiração, e é isso que faz o ato de tocar uma harmônica algo tão fisiológico e cheio de feeling, e a técnica do chileno é inacreditável. Em velocidade, feeling, melodia e originalidade, Araya foi um monstro. Fechou de forma incrível o primeiro bloco, e até curou um pouco do cansaço que algumas doses de Jack me trouxeram.


 
    Com o seu vocal, Ale foi presença constante no palco, servindo de apoio aos colegas de turnê, e agregando ainda mais qualidade ao espetáculo.



    Após um intervalo, tivemos então, a prometida suruba, e aí o que se viu foram quatro mestres se divertindo com seus brinquedinhos, entre próprias, e covers, a noite acabou em grande estilo, e em um clima excelente.


   Parabéns à iniciativa, e esperamos que outras atrações desse nível continuem a vir à Santa Cruz do Sul. E fica o pedido/dica/choro: quem sabe não podia ter alguma banda local abrindo?

2 comentários:

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