quarta-feira, 13 de março de 2013

To be Thick as a Brick - Review Jethro Tull, em Porto Alegre, 12/03/12


Ian Anderson's Jethro Tull
Porto Alegre - Araújo Viana
12/03/2012
Tour Thick as a Brick

Banda
Ian Anderson (vocais, flauta transversal e violão)
Florian Opahle (guitarra)
Scott Hammond (bateria)
David Goodier (baixo)
John O'Hara (teclados)
Ryan O'Donnell (vocal)

Ian estava um pouco acima do peso. Foi mal, gurias.
      Daquela banda que, em 1972, compos o álbum Thick as a Brick, hoje em dia apenas Ian Anderson segue trabalhando como Jethro Tull. Pouco tempo atrás eu achava isso ruim. Após ficar sabendo que essa nova formação iria fazer uma turnê tocando na íntegra o meu disco preferido da longa carreira destes britânicos, agradeci pela força de vontade do frontman seguir trabalhando e ousando pisar em lugares antes perigosos. Sim, tocar o Thick as a Brick não é negócio fácil. Entendam: Se trata de um álbum com apenas uma música. São 43 minutos e 54 segundos de puro rock progressivo. Isso, em 1972, foi uma baita inovação. Naquela época, toca-lo ao vivo era negócio de outro mundo para o Jethro Tull. Nunca a executaram completa. Só versões reduzidas de "apenas" 20 minutos.

      E não é que, em 2012, o Thick as a Brick volta a ser notícia. Ian Anderson resolveu continuar ele, lançando o TAAB II. Explico - o álbum de 72 contava a história de um garoto que criou um mundo absurdo em sua volta, levando ele a loucura. 40 anos depois, Ian quis contar como estava agora o Gerald Bostock velho. Portanto, o show ontem contou sua infância e sua velhice. Dois álbuns progressivos na íntegra. Desde que essa notícia saiu, tinha a certeza de que precisaria assistir isso.

      Em um certo momento da minha vida comecei a admirar muito o rock progressivo. Logo parti para os extremos. Encontrei em discos do Yes, do King Crimson e no Thick as a Brick. Nunca imaginei que teria a chance de assisti-lo, e, na noite da última segunda, ainda não era certo que estaria presente neste momento histórico. Porém, entre 23h30 e 00h, tudo mudou. Em minutos de muita adrenalina, consegui carona e ingresso (os últimos!) para estar presente no Araújo Viana na terça-feira. E, lá fui eu.

      O local é incrível. O teatro foi totalmente reformado e nem parece Porto Alegre. Algo de nível europeu. Mesmo na última cadeira da platéia alta, a visão do palco é perfeita. Eu, comprei platéia baixa lateral. Logo após me sentar, faltando uns 20 minutos para as nove, hora prevista para começar o Tull, a abertura subiu ao palco. Sinceramente, não tenho muito o que falar sobre ele. Um cara e seu violão. Tocou umas cinco músicas. Totalmente sem graça. Foi a legítima escolha apenas para não pagar a multa que existe para shows internacionais que não tenham uma abertura gaúcha.

Banda/lixeiros limpando o palco
     O homem foi retirado do palco por um ser estranho. Chamou atençao um homem de sobretudo e boina, varrendo o chão. Logo outros destes apareceram. Todos vestidos iguais. Arrumavam os equipamentos e organizavam o palco. Perto das nove horas, se reuniram em um grupinho no fundo e, batendo os pés, meio que fizeram um grito de guerra. Total clima de Jethro Tull, sem noção alguma.

      Deixaram o palco vaziu e as luzes se apagaram. Um vídeo sem muito sentido, de um homem indo a um psicologo, passou. Aí uma crítica - na platéia lateral era difícil ver o telão inteiro, havia um pano na frente. Porém, isso logo foi esquecido. O vídeo acabou e, sem cerimônia alguma, Ian Anderson estava no palco com seu violão começando Thick as a Brick. Mais do que isso, aqueles homens de sobretudo e boina eram sua banda! E, com o decorrer da música, as roupas de trabalho foram tiradas e lá estava o novo Jethro Tull.

Iluminado, Ian dá início ao show com os lixeiros
      Ian cantou a primeira parte da canção. O homem que antes varreu a abertura do palco, se mostrou ser o outro vocalista. Sua vassoura foi quebrada e se transformou em uma imitação de flauta transversal. Flauta que é marca registrada do Ian Anderson e... falhou. Sim, esse foi o grande problema do show. No momento em que entraria o primeiro solo do instrumento de sopro, ele simplesmente não funcionou. Fato extremamente lamentável. Após alguns segundos de tensão, o som folk soou no Araújo Viana e, de cara, um improviso. O solo foi feito completo, deixano a parte da canção maior do que o normal.



      Difiícil descrever toda a música. São 44 minutos. Mas, a atuação foi espetacular! Ian fez solos incríveis de flauta. Enquanto solava, Ryan - o cara da vassoura - assumia os vocais, que lembravam bastante a voz do frontman nos anos 70. Os dois dançavam, corriam e curtiam o momento. Teve também as esquisitísses. Anderson recebeu, no meio da música, uma ligação do celular. Ele pediu para a mulher ao telefone ligar para ele no Skype em dois minutos. Passado este tempo, apareceu um ser estranho no telão, que ficou curtindo a música.

      Os solos de teclado, para mim, foram o grande destaque. O cara era muito bom. O baixista, que tinha um jeito de gnomo, curtia o som e mantia tudo muito bem. O guitarrista, também baixinho, era ótimo. Já o batera, matou a pau no solo que começa a segunda parte da música. Foi um momento lindo. O público, que lotou o teatro, aplaudia a cada parte que passava. A música, mesmo sendo longa, não fica em momento algum chata. E, na minha opinião, o grande momento são os 10 minutos finais. Solos incríveis de todos instrumentos e a conclusão: "So you ride yourselves over the fields. And you make all your animal deals. And your wise men don't know how it feels... To be Thick as a Brick".

     Durante toda essa etapa final, o silêncio era total no teatro. Encerrando a música, o público todo ficou de pé e aplaudiu com muita vontade a banda. Foi histórico! Era um sonho realizado. Indescritível!



      Ian anunciou que um curto intervalo iria se feito e logo estariam devolta para Thick as a Brick II. E aí, como não poderia deixar de ser, o show esfriou. Tiveram grandes momentos. Na minha opinião, A Change of Horses é um baita som. Extreamente progressivo. Adrift and Dumbfounded, mais do começo do disco, também é muito bom. Porém, os grandes momentos da segunda parte, foi quando trechos do disco relembravam a primeira música. A banda seguia muito bem, a atuação era ótima... mas, não adianta. Eram canções desconhecidas e que não animavam muito. Logo alguns chatos já começaram a gritar "Aqualung". Bem... estes sairam decepcionados de lá.

     O final da segunda parte do show, foi igual a primeira. E, novamente, bem emocionante. A banda foi apresentada por um enorme Ian Anderson no telão. Se despediram, deixando o público de pé pedindo por mais um. Muita gente já ia embora. Eu, sabendo que teria bis, fui pra frente do palco. Muitos fizeram o mesmo e os seguranças não conseguiram impedir. Estava bem perto quando a banda voltou. E aí, para encerrar com uma clássica! Locomotive Breath fez todos ficarem de pé e agitarem muito na frente lotada do palco. A banda sentiu e também tocou com força total. A música, que não é longa, teve quase o dobro de duração. Muitos solos e a oportunidade de ver um mestre bem de perto. Foi foda!

      Aí, se despediram mais uma vez e foram embora em definitivo, ignorando os pedidos de Aqualung. E disso eu até gostei! Show foi para fãs mesmo. Um grande acerto do Ian Anderson em fazer essa turnê agora que ela é possível de ser realizada. O segundo vocal do Ryan ficou muito bom. E a banda era incrível. Anderson ainda é um mestre da flauta e incrível compositor. Aguardo a volta deles um dia! Por enquanto, resta esperar o show do Yes que será no mesmo local! Já digo - IMPERDÍVEL!

(fotos Sílvio Hoffmann e Stefan Nicolas)

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