quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Classy Classics II

     E agora, depois de um expediente infernal, estou tirando um coffee break para vos escrever o primeiro post desse querido dezembro. Retomo uma coluna que comecei faz algum tempo já e dessa vez a dedico a um de meus álbuns favoritos de todos os tempos - e este é o Moving Pictures, do RUSH. A primeira vez que ouvi esse álbum mudanças pesadas ocorreram na minha concepção de música, musicalidade e rock n' roll e a sugestão foi feita pelo meu então professor, dizendo que era o álbum da sua música preferida do RUSH: Limelight. Eu acabei me deixando levar por Limelight, que é um tanto desconhecida e não entendo porque, e dei-me tempo para ouvir o álbum inteiro e é uma experiência de outro mundo. Então, coloquem os fones e aumentem o volume, pois o RUSH é de viciar.



     Este álbum marca a saída do RUSH do progressivo extremo de músicas de 20 minutos com bilhões de partes e instrumentais que demorariam mais de 20 anos para sair do estúdio e entrar nos palcos com perfeição(que é o caso da música La Villa Strangiato, como relatam os membros da banda no seu documentário Behind The Lighted Stage - o nome do documentário, ironicamente, vem da letra de Limelight, minha também favorita música do RUSH). Também marca o começo do uso de sintetizadores, apesar de entrarem de vez nessa era no álbum seguinte, Signals. Podemos notar já na primeira música que os teclados estarão mais presentes que nunca na vida da banda.

     O riff da primeira música, Tom Sawyer, já começa sintetizando. A música é inspirada no livro de Mark Twain, deveras. O baterista Neil sempre foi viciado em ler e o escritor principal das letras da banda e, nessa, relata como a personalidade do personagem é transcrita em todos nós numa sociedade moderna. 'And what do you say about his company is what you say about society' (Numa tradução livre: 'e o que você  fala da sua companhia(de Tom) é o que você diz da sociedade'). Além da letra instigante conta com o segundo riff mais cantarolado do RUSH de todos os tempos.

     A segunda música é Red Barchetta. Essa é um bucolismo extremo - fala sobre um suposto 'tio' que reservara para o sobrinho, em sua fazenda, um lindo carro(uma Barchetta) cheio de 'mechanical music'(música advinda da mecânica do veículo). Relata os sentimentos de correr pelo countryside com o lindo carro, todas emoções, rivalidades, e após uma tarde de diversão retornar à fazenda para relaxar na fogueira. O mais interessante da música é como ela lhe faz sentir acelerando junto e transmite a calma do campo.



     Depois vem a música que mais detesto na história do RUSH - e que, também, é a mais conhecida e cantarolada. Estamos falando de YYZ. Trata-se de uma música tradicional do RUSH na época, com interludes, refrões e tudo mais no lugar que deveria estar mas, sem letra. Para mim isso fora o extremo da preguiça, mas todos gostam da sua melodia. Para mim, ela transmite raiva e conflito, uma espécie de guerra interna comigo mesmo.

     E, agora sim, Limelight. Essa é especial, e fala diretamente de como funciona a indústria do Show Business, dos palcos, ou ao menos como funcionava na época. A letra explica melhor que minhas palavras:

'Living on a lighted stage
Approaches the unreal
For those who Think and Feel'

'Vivendo num palco iluminado
Se aproxima do irreal
Para aqueles que pensam e sentem'

'Living in the Limelight
The Universal Dream
For those who wish to Seem
Those who wish to be
Must put aside the alienation'

'Vivendo nas luzes da ribalta
O sonho universal
Para aqueles que querem aparecer
Aqueles que desejam Ser
Devem deixar de lado a alienação'

'All the world's indeed a stage
And we are merely players:
Performers and Portrayers
Each another's audience
Outside the gilded cage'

'Todo o Mundo é de fato um palco
E somos meros jogadores:
Atores e Retratados
A platéia um do outro
Fora da gaiola dourada(palco)'

     Então, como podemos ver, é um desabafo sobre a falsidade e as falsas esperanças que todos temos com os palcos; Devemos Ser, não parecer. Após essa música vem a The Camera Eye(O olho da Câmera) para prosseguir com as câmeras observando a todos e ninguém. A melodia dessa música com certeza inspirou todas melodias de ficcção científica - você se sente dentro de uma espaçonave ou algo parecido sentado perante as luzes piscantes.

     O rock progressivo tem tudo a ver com o sentir - o feeling. Se você não tem nenhum e usa a música como desculpa para ir às luzes, ficar se aparecendo, você não nasceu para o prog e não vai conseguir nem respeitar ele. The Camera Eye tem 10 minutos e representa, muitas vezes, aquele velho ditado entre maestros: "Silêncio também é música". Então, The Camera Eye é para se sentir mais do que se entender - tanto que tudo que entendo dela até hoje é exatamente o que citei: as câmeras constantemente observando você e a todos sem sentido(não apenas as câmeras, mas, os olhares também, o que morando em cidades pequenas como a minha faz você sentir na pele: rasgue seus jeans pra ver quantas cabeças irão virar quando você passar). 'Pavements may teem with intense energy, But the city is calm in this violent sea.' - Calçadas podem estar cheias de energia intensa, mas a cidade está calma nesse mar violento.

     Bom, falar de feeling quando se está escrevendo sobre um álbum de progressivo é um tanto redundante, mas agora vem 2 músicas que não dá pra descrever sentimentos mais intensos: Witch Hunt e Vital Signs. Witch Hunt lhe faz sentir como poa parte de outras músicas como The Camera Eye e Limelight: Observado. Se pararmos pra observar, é nesse ponto que o nome do álbum começa a fazer sentido: Quadros em Movimento(Moving Pictures) - o que se faz para um quadro? qual ser que está em constante movimento? Os olhares, a observação, o constante movimento e visões.

     'The Night is Black without a moon': A noite está negra sem uma lua - Escuridão! Essa música merecia a letra inteira aqui mas isso seria muita chinelagem. 'The Mob move like demons posessed. [...] confident their ways are best' - a máfia se desloca como demônios possuídos confiantes que seus jeitos são melhores. 'They say there are strangers too dangerous' - Dizem que há estranhos perigosos demais: Sempre nos perseguindo em Imigrantes, Revolucionários, Anfiteatros e Estantes. 'Those who know what's best for us must rise and save us from ourselves': Aqueles que sabem o que é melhor pra nós devem se levantar e nos salvar de nós mesmos; 'Quick to judge, quick to anger, slow to understand': Rápidos para julgar, Rápidos para enfurecer, Devagares para entender' - A ignorância do ser humano e afinal, o que é ser, o que é melhor para nós? Fica a pergunta.

     E para fechar um toque de ser humano: Vital Signs. A música começa com um pulsar de coração feito no baixo: para quem acha que Pink Floyd fazendo relógio no Baixo é doideira, pff, pro RUSH isso é fichinha. Não me levem a mal, sou super fã de Pink Floyd e em breve vira um Classy Classics deles também(SPOILER ALERT), mas o coração é muito mais sufocante, tocante. O começo da música nos explica muitas dúvidas que ficaram da experiência que veio até agora - por isso sugiro ouvir o álbum inteiro, sem pausas, mas pode pular YYZ pois esta no máximo vai matar sua paciência. 'Unstable Condition, A Symptom of Life, In Mental and Enviromental Change' -  Condição instável, um Sintoma da Vida, Em mudanças mentais e ambientais. Todos temos sentimentos misturados, somos instáveis, vulneráveis, manipuláveis, observáveis, e temos um pouco de tudo dentro que pode se demonstrar insuportável(essa cruz que é viver). Os sinais vitais de sermos nós mesmos que deveríamos evitar: 'Everybody have to deviate from the norm' - Todos devemos deviar da norma; 'Everybody got to Elevate from the norm' - Todos devemos nos elevar da norma. Uma evolução, uma revolução no nosso jeito de pensar, agir, sentir, e, principalmente, compor e ouvir músicas. Esse álbum vai mudar a vida de todos que ouvirem e tentarem entendê-lo - tento fazê-lo todo dia; Acredito na música por um mundo melhor, uma mente melhor. Abraços a todos meus amados leitores.

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